O Ensaio Subjetivo

Continuando com nosso estudo sobre o ensaio, nos deparamos com que, segundo Moises(1997), sem a "Paixão", o ensaio perde o impulso que lhe dá consistência e razão de ser. Paixão, no sentido de subjetividade, emotividade, o "eu" do autor. O ensaísta se preserva de maiores danos graças a pôr constantemente em dúvida as próprias certezas, a não se levar a sério, empregar primeiro consigo mesmo a ironia, ainda mais sutil do que de hábito, com que sonda as questões que sua mente descortina.

Lembrando que a estrutura do ensaio curto é:
Dividimos o ensaio curto em três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão
A introdução,
estabelece o objetivo e a ideia central do ensaio, além de indicar como esta ideia central será desenvolvida. Ocupa o primeiro parágrafo do texto. 
O desenvolvimento, 
explana a ideia central enunciada na introdução. Fazem parte do desenvolvimento os parágrafos restantes, exceto o último. Este é ocupado pela conclusão.
A conclusão,
retoma a ideia central expressa na introdução e resume a explanação feita sobre ela no desenvolvimento. Você certamente percebeu que a introdução, o desenvolvimento e a conclusão do ensaio curto têm a mesma função do tópico frasal, do desenvolvimento e da conclusão do parágrafo, respectivamente. Isto ficará mais claro se você lembrar que o parágrafo foi definido como uma “unidade de composição”. Podemos levar mais adiante a analogia, comparando cada um dos parágrafos do desenvolvimento do ensaio curto com as frases de explanação do parágrafo. Quanto à conclusão, opcional no parágrafo, é obrigatória no ensaio, devido à maior distância que há entre o enunciado da ideia central (feito na introdução) e o fim de sua última explanação. 

Exemplo de ensaio:
Resumo do ensaio sobre o terror de Jacques Rancière

DO MEDO AO TERROR

por Jacques Rancière

Resumo

O terror não é simplesmente um medo mais forte que responde a uma ameaça mais temerosa e mais difusa. É uma maneira de nomear, de ressentir e de explicar o que causa perturbação na alma de cada um de nós. Nomear “o terror” como o mal que está em torno de nós e nos ameaça é, pouco a pouco, redefinir o conjunto de coordenadas que nos servem para explicar o mundo, para pensar as relações entre causa e efeito, entre bem e mal, e também as relações que ligam os indivíduos em sociedades.

Uma via de acesso que torna possível a compreensão dessa relação é a ficção. A ficção obriga a uma racionalização da apresentação dos fatos e de seus vínculos, a uma decantação de nossos modos de percepção e de explicação das coisas, como num cálculo dos efeitos que essa apresentação deve produzir sobre o sentimento e o pensamento daqueles a quem se dirige.

Comparando no cinema, um filme alemão dos anos 1930 (M, o vampiro de Düsseldorf, de Fritz Lang) e um filme americano do começo do século XXI (Sobre meninos e lobos, de Clint Eastwood) é possível extrair o deslocamento de uma estrutura de o perigo (ou de desordem) para uma outra. As duas ficções estão estruturadas pela relação entre quatro figuras: a criança, o doente mental, o policial e o vigarista. Mas, em M, o vampiro de Düsseldorf, esse jogo das outras figuras serve para conter o terror nos canais do medo; em Sobre meninos e lobos, ao contrário, os encadeamentos do medo são absorvidos e apagados numa lógica da repetição do trauma e de seu violento acerto de contas.

De um filme a outro, nota-se uma modificação do regime de percepção e da ideia de ameaça, que é uma modificação da própria relação entre racionalidade e irracionalidade.

O discurso ético pretende recusar a ingenuidade das cruzadas do bem contra o mal e perturbar a segurança da ordem consensual, remetendo-a a suas origens violentas, e fazendo do terror não mais a arma do inimigo do bem e da democracia, mas uma condição compartilhada. No lugar da oposição do bem e do mal, ele coloca a identidade última do aterrorizador e do aterrorizado, a relação da civilização da violência irredutível e fundadora da relação com uma alteridade incontrolável.

Há, hoje, uma dificuldade de pensar o terror. O terror não é simplesmente um conjunto de atos e de ameaças efetivos. Esse nome designa também um certo estado do mundo. Mas esse estado do mundo define também um modo de percepção e uma grade conceitual: o terror se apresenta muito naturalmente como explicação do terror.

Convidamos a nossos leitores a escrever um ensaio curto para ser publicado em nosso blog. Quem quiser participar pode escrever para:
letrasnojardim@gmail.com


Referência:
MOISES, Massaud. A Criação Literária. Cultrix:São Paulo, 1997.

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