Poesia Infantil

Dando continuidade  a nosso programa de 2020, hoje nosso encontro é sobre poesia infantil.

A poesia infantil é uma poesia escrita ou apropriada para crianças. Isso pode incluir poesia folclórica; poesia escrita intencionalmente para jovens; poesia escrita originalmente para adultos, mas apropriada para jovens; e poemas retirados de obras em prosa.
Neste gênero encontramos com mais evidência o trabalho com a sonoridade, com as imagens, com elementos lúdicos, e muitos outros aspectos que se identificam com a criatividade e a imaginação que compõem o mundo infantil.
No livro: Literatura Infantil - voz de criança de Maria José Palo e Maria Rosa D. Oliveira, " o foco narrativo participa de duas naturezas - a verbal e a visual -, ambas tentando uma comunicação, a mais próxima e direta possível, com a criança, recuperando a tradição de oralidade do "Era uma vez" dos contos de fada; aquele momento único de transferência da experiência do Narrador àqueles que o ouvem, de modo a "imprimir na narrativa a marca do narrador". (PALO E OLIVEIRA, p.42).
No que diz respeito à poesia infantil pode-se dizer que:
Normalmente, as poesias promovem o apreço pela leitura e o interesse pelos textos escritos. A poesia mexe com o imaginário da criança, levando-a a expressar desejos, sentimentos, descobrindo que se pode brincar com as palavras.
Um exemplo a ser citado é  a Arca de Noé de Vinicius de Moraes. A Arca de Noé tornou-se um dos livros mais populares de Vinicius de Moraes por ter criado um laço com as crianças. Todas as gerações têm nos seus poemas uma porta de entrada no mundo da literatura e da música popular brasileira. os poemas da A Arca de Noé foram escritos por Vinicius muitos anos antes de sua primeira edição. Eram feitos para seus filhos Suzana e Pedro de Moraes. Por muitos anos, eles ficaram guardados. Só em 1970, o conjunto de poemas infantis ganha o mundo.

A ARCA DE NOÉ - Vinicius de Moraes
Rio de Janeiro , 1970

Sete em cores, de repente
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata.

O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata.

E abre-se a porta da Arca
De par em par: surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca

Noé, o inventor da uva
E que, por justo e temente
Jeová, clementemente
Salvou da praga da chuva.

Tão verde se alteia a serra
Pelas planuras vizinhas
Que diz Noé: "Boa terra
Para plantar minhas vinhas!"

E sai levando a família
A ver; enquanto, em bonança
Colorida maravilha
Brilha o arco da aliança.

Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante.

E logo após, no buraco
De uma janela, aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece.

Enquanto, entre as altas vigas
Das janelinhas do sótão
Duas girafas amigas
De fora as cabeças botam.

Grita uma arara, e se escuta
De dentro um miado e um zurro
Late um cachorro em disputa
Com um gato, escouceia um burro.

A Arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Aos pulos da bicharada
Toda querendo sair.

Vai! Não vai! Quem vai primeiro?
As aves, por mais espertas
Saem voando ligeiro
Pelas janelas abertas.

Enquanto, em grande atropelo
Junto à porta de saída
Lutam os bichos de pêlo
Pela terra prometida.

"Os bosques são todos meus!"
Ruge soberbo o leão
"Também sou filho de Deus!"
Um protesta; e o tigre - "Não!"

Afinal, e não sem custo
Em longa fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais.

Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida.

Conduzidos por Noé
Ei-los em terra benquista
Que passam, passam até
Onde a vista não avista.

Na serra o arco-íris se esvai...
E... desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Na terra, e os astros em glória

Enchem o céu de seus caprichos
É doce ouvir na calada
A fala mansa dos bichos
Na terra repovoada.

Convidamos nossos leitores a enviar seus poemas infantis para: letrasnojardim@gmail.com

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