Camões

 Seguindo nossa atividade literária, na última postagem escrevemos sobre o soneto. Este texto tratará a respeito de Luiz Vaz de Camões.

Luís de Camões (1524-1580) foi um poeta e soldado português, considerado o maior escritor do período do Classicismo. Além disso, ele é apontado como um dos maiores representantes da literatura mundial. 
Autor do poema épico “Os Lusíadas”, revelou grande sensibilidade para escrever sobre os dramas humanos, sejam amorosos ou existenciais. Pouco se sabe de sua vida, portanto, o local e os anos de nascimento e morte ainda são incertos.
Camões escreveu poesias, epopeias e obras de dramaturgia. Foi assim que tornou-se um poeta múltiplo, sofisticado e ao mesmo tempo, popular. Decerto que ele possuía grande habilidade poética, na qual soube explorar com muita criatividade as mais diferentes formas de composição. Foi um dos maiores poetas do Renascimento, mas às vezes se inspirou em canções ou trovas populares escrevendo poesias que lembram várias canções medievais. Seus versos revelam que estudou os clássicos da Antiguidade e os humanistas italianos.

Suas obras de maior destaque são:
El-Rei Seleuco (1545), peça de teatro;
Filodemo (1556), comédia de moralidade;
Os Lusíadas (1572), grande poema épico;
Anfitriões (1587), comédia escrita em forma de auto;
Rimas (1595), coletânea de sua obra lírica;

A maior parte da poesia lírica de Camões é composta de sonetos e redondilhas (estrofes com versos de cinco ou sete sílabas). 

Para quem ainda ficou com saudades do soneto, apresentamos o seguinte soneto de Camões que se trata de um soneto decassílabo, em que cada verso se acentua na décima sílaba tônica :

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


O que é uma Redondilha?
Chama-se redondilha o recurso poético que estabelece versos de cinco ou sete sílabas poéticas. Os versos que possuem cinco sílabas poéticas são chamados de redondilhas menores, já os que possuem sete sílabas são redondilhas maiores.Esse recurso foi muito utilizado no Trovadorismo, para a produção de Cantigas Medievais e no Humanismo, influenciando muito a produção do teatro vicentino. Os poetas "eruditos" nunca as desdenharam. Camões cultivou-as com mestria: «Aquela cativa / que me tem cativo» (em redondilha menor) e «Perdigão perdeu a pena / não há mal que lhe não venha» (em redondilha maior).

Vamos de redondilhas?


AQUELA CATIVA (1595) - Camões

a uma cativa com quem andava de amores na Índia, chamada Bárbora
––––––––-
Aquela cativa,
que me tem cativo,
porque nela vivo
já não quer que viva.

Eu nunca vi rosa
em suaves molhos,
que para meus olhos
fosse mais formosa.

Nem no campo flores,
nem no céu estrelas,
me parecem belas
como os meus amores.

Rosto singular,
olhos sossegados,
pretos e cansados,
mas não de matar.

Uma graça viva,
que neles lhe mora,
para ser senhora
de quem é cativa.

Pretos os cabelos,
onde o povo vão
perde opinião
que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
tão doce a figura,
que a neve lhe jura
que trocara a cor.

Leda mansidão
que o siso acompanha;
bem parece estranha,
mas Bárbara não.

Presença serena
que a tormenta amansa;
nela enfim descansa
toda a minha pena.

Esta é a cativa
que me tem cativo,
e, pois nela vivo,
é força que viva.


Convidamos a enviar sua redondilha para nós, lembrando que a contagem silábica é assim, tomando como exemplo a penúltima estrofe do poema  acima: 
Exemplo:

Pre|sen|ça| se|re|na = acento na 5a sílaba tônica
que a| tor|men|ta a|man|sa; = 5
ne|la en|fim| des|can|sa = 5
to|da a| mi|nha| pe|na.= 5

Enviem seus trabalhos para nós:
letrasnojardim@gmail.com

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