José Lins do Rego e o regionalismo

José Lins do Rego Cavalcanti foi um escritor brasileiro que, ao lado de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz e Jorge Amado, figura como um dos romancistas regionalistas mais prestigiosos da literatura nacional. Segundo Otto Maria Carpeaux, José Lins era "o último contador de histórias." Porém, hoje existem Academias de Contadores de Histórias e escritores que se destacam como escritores e contadores de histórias como Mia Couto, a Academia Brasileira de Contadores de Histórias, Ana Esther Pithan, Inês Carmelita Lohn, Milka Plaza, José Reginaldo Galão, entre outros.José Lins do Rego (José Lins do Rego Cavalcanti) foi romancista e jornalista. Nasceu no Engenho Corredor, Pilar, PB, em 3 de junho de 1901, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 12 de setembro de 1957. Romancista da decadência dos senhores de engenho, sua obra baseia-se em memórias e reminiscências. Seus romances levantam todo um sistema econômico de origem patriarcal, com o trabalho semiescravo do eito, ao lado de outro aspecto importante da vida nordestina, ou seja, o cangaço e o misticismo. O autor desejaria que a sua obra romanesca fosse dividida: “Ciclo da cana-de-açúcar”: Menino de engenho, Doidinho, Banguê, Fogo morto e Usina; “Ciclo do cangaço, misticismo e seca”: Pedra Bonita e Cangaceiros; “Obras independentes”: a) com ligações nos dois ciclos: O moleque Ricardo, Pureza e Riacho Doce; b) desligadas dos ciclos: Água-mãe e Eurídice.


Fogo Morto

Fogo Morto (1943) é o décimo romance de José Lins do Rego e foi considerado pela crítica desde o princípio como uma obra-prima. O texto gira em torno de três personagens – José Amaro, Luís César de Holanda Chacon e o capitão Vitorino Carneiro da Cunha (maior personagem não só do livro, como de toda a obra de Lins do Rego). É um romance essencialmente triste e com uma presença forte de loucura (uma das obsessões do autor, asim como morte e sexo. A história se desenrola em torno do engenho de Santa Fé.

TRECHO 1
“Já devia ser bem tarde e havia deixado a filha doente com a mulher acabrunhada. Era a sua mulher Sinhá a única culpada. Que podia ele fazer com uma filha que nada tinha dele, que era um outro ser, sem coragem para vencer todos os medos? Ele não tinha medo de ninguém. Marchava devagar. As suas alpercatas batiam alto no calcanhar. Estava só naquele mundo, sem uma pessoa, sem um ente vivo. Viu a luz da casa das velhas do seu Lucindo como um farol vermelho na luz branca da lua. Aproximou-se mais e ouviu choro de gente. O que seria aquilo? Pensou em entrar no atalho que dava para a casa. E estava pensando em procurar saber o que podia ser aquele choro, quando um canto de reza subiu ao ar. Era quarto de defunto. Entrou no atalho e se foi chegando para a casa que se escondia atrás de um juazeiro enorme. Só podia haver muita gente dentro da casa para dar aquele volume enorme de canto de morte. E quando ele se chegou na janela e botou a cabeça para olhar o povo rezando, um grito estourou como uma bomba. – É ele, é o lobisomem.”


COMENTÁRIO
Essa cena mostra um dos motivos da aflição do personagem José Amaro: ser tachado de lobisomem pela população. O mestre é confundido com uma criatura maléfica e sobrenatural, quando, na verdade, só ganhou o aspecto de uma besta em razão de seu trabalho, que o esgota fisicamente.

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O que é o Regionalismo?
Regionalismo é uma corrente literária. No Brasil, está associada ao movimento do romantismo. Devido ao fato de a povoação do Brasil ter ocorrido em regiões distintas e distantes entre si (litoral nordestino, litoral fluminense e interior mineiro, por exemplo), o traço cultural de cada região influenciou o próprio desenvolvimento idiomático do português, ao longo da história. Em outras palavras, em cada região brasileira a língua portuguesa sofreu diferentes influências culturais, e por isto incorporou diferentes formas de expressão, o que aos poucos deu origem a diferentes dialetos. Cabe esclarecer que, por regionalismo, entende-se a literatura que põe o seu foco em determinada região do Brasil, visando retratá-la, de maneira mais superficial ou mais profunda. Os primeiros autores do gênero não focalizavam propriamente uma região, no sentido geográfico, não visavam mostrar a vida no sertão do Nordeste, ou de São Paulo ou do Rio Grande do Sul....

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Referências:
Guia do estudante
BOSI, Alfredo (1994). História concisa da Literatura Brasileira 42 ed. São Paulo: Cultrix

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