Literatura Marginal

 O que é literatura marginal?

Na literatura, o termo marginal designa obras e autores que de alguma maneira se afastam do cânone, podendo se referir à produção literária que circula fora do circuito comercial das grandes editoras, a textos que procuram se opor às principais tendências literárias e a trabalhos relacionados a grupos cuja identidade se define negativamente em relação à cultura dominante.

O termo “literatura marginal” nasceu por volta dos anos 70, também conhecida como poesia marginal ou geração mimeógrafo, em função da repressão da ditadura militar. Como principal característica surgiu a quebra de padrões literários da época, que ia contra o modelo do mercado editorial, fugindo das formas comerciais de produção e circulação de literatura impostas pelas grandes editoras da época. Ressaltando que a década de 70 foi uma das mais opressoras para a intelectualidade do país (Brasil), onde a implementação do ato institucional número 5 (AI-5) repreendeu todo o tipo de liberdade de expressão.

Um dos objetivos da Poesia Marginal era propor uma crítica aos conservadorismos da sociedade, incorporando à Literatura elementos e representações da violência diária nas grandes cidades. A expressão Geração Mimeógrafo, como ficou conhecida também a Poesia Marginal, estava ligada ao fato de que muitos poetas recorriam ao mimeógrafo para copiar seus livros em um processo artesanal e sem qualquer tipo de vínculo com editoras, que não se interessavam pela Literatura que subvertia os padrões convencionados para a arte. As poucas cópias eram vendidas para um público restrito, pessoas que frequentavam eventos como shows, exposições e bares ligados à contracultura.

Na literatura, seus principais representantes foram os poetas Paulo Leminski, José Agripino de Paula, Waly Salomão, Francisco Alvim, Torquato Neto, Chacal, Cacaso e Ana Cristina Cesar. Na música, seus maiores representantes foram Sérgio Sampaio, Tom Zé, Jorge Mautner, Jards Macalé e Luiz Melodia, considerados marginais ou “malditos” por terem sido preteridos pelas grandes gravadoras da época. Após intensa produção cultural, o movimento foi se desfazendo: na Literatura, o último ato coletivo foi o lançamento da revista Navilouca, organizada por Torquato Neto e Waly Salomão entre os anos de 1972 e 1973.


Poesia Marginal

Let's play that - Torquato Neto

quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião

eis que esse anjo me disse
apertando minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
let's play that


Assaltaram a gramática - Waly Salomão

Assaltaram a gramática
Assassinaram a lógica
Meteram poesia
na bagunça do dia a dia
Sequestraram a fonética
Violentaram a métrica
Meteram poesia
onde devia e não devia
Lá vem o poeta
com sua coroa de louro,
Agrião, pimentão, boldo
O poeta é a pimenta
do planeta!
(Malagueta!)


Acreditei que se amasse de novo - Ana Cristina Cesar

esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos

Ana Cristina Cesar

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Fontes:
LITERATURA marginal. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo14336/literatura-marginal>. Acesso em: 13 de Jun. 2021. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

https://homoliteratus.com/literatura-marginal-um-grito-para-o-mundo/

https://www.portugues.com.br/literatura/poesia-marginal.html

https://www.portugues.com.br/literatura/dez-poemas-geracao-mimeografo-ou-poesia-marginal.html

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